A preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 vem ganhando as manchetes do noticiário nos últimos meses e, infelizmente, as reportagens não tratam da escalação do escrete canarinho ou do acerto das escolhas do treinador Mano Menezes até aqui, como seria de se esperar em um país com mais de 100 milhões de técnicos de futebol. O assunto que vem ganhando as manchetes está fora do gramado: a necessidade, a cada dia que passa mais urgente, de preparar a infraestrutura do país e reformar ou construir os estádios em que serão realizadas as partidas do maior evento esportivo do planeta.
Antes de qualquer coisa, vale ressaltar que os brasileiros reúnem todas as condições, técnicas e operacionais, de sediar a Copa do Mundo, as Olimpíadas ou qualquer outro evento de grande porte. A capacitação do país está fora de discussão, em que pesem os entraves, bastante conhecidos de todos, para dar agilidade às obras que precisam ser realizadas rapidamente.
Dada a urgência da questão, seria conveniente para todos os envolvidos nas obras que já estão em andamento ou nas que ainda terão início, a conveniência de se adotar soluções que contemplem o uso, em larga escala, do aço. Sim, pois as estruturas metálicas são projetadas para fabricação industrial e seriada, levando a um menor tempo de fabricação e montagem.
A Copa no Brasil será um sucesso. A seleção poderá redimir o fracasso de 1950 e a engenharia brasileira terá mais uma chance de mostrar sua capacitação
O aço tem outras vantagens importantes que devem ser levadas em consideração pelos engenheiros e projetistas que estão trabalhando nas obras, em especial as que serão realizadas nos aeroportos, para readequação à demanda,maior e crescente, e nos próprios estádios de futebol, que podemos resumir da seguinte forma:
Durabilidade - Peças metálicas apresentam excelente resistência à corrosão atmosférica desde que determinados cuidados sejam tomados. Para melhorar ainda mais a resistência do aço à corrosão, protege-se a estrutura com pintura e/ou galvanização.
Relação custo-benefício - Quando o aço sofre o processo de galvanização por imersão a quente, no qual o aço é revestido com zinco fundido, além da proteção por barreira, isolando o aço dos agentes agressivos do meio ambiente, recebe proteção catódica - a camada de zinco depositada em cima do aço "sacrifica-se" para protegê-lo.
Maior facilidade de montagem - Estruturas de aço são feitas em regime de fabricação industrial, de forma que a equipe montadora já recebe as peças nos tamanhos definidos, com as extremidades preparadas para soldagem ou aparafusamento na montagem, que ganha eficiência e rapidez.
Há outras vantagens no uso do aço, mas essas são as que podemos relacionar diretamente com a urgência das obras para a Copa de 2014. A aplicação nas reformas de estádios nas novas arenas que serão construídas é evidente, mas também em outros empreendimentos o aço, especialmente se galvanizado, pode ser utilizado com ganhos de eficiência, custo e velocidade na execução das obras. É o caso, por exemplo, de boa parte dos aeroportos brasileiros, que já hoje se mostram saturados, demandando não apenas novas pistas, mas também terminais maiores e mais modernos.
A Copa no Brasil será um sucesso. A seleção poderá redimir o fracasso de 1950, quando, por fatalidade, deixou escapar o título no jogo final no estádio do Maracanã. E a engenharia brasileira terá mais uma chance de mostrar sua capacitação e criatividade em soluções adequadas e inteligentes para obras que requerem precisão, agilidade e custo-benefício compatível com as condições do país.
Ricardo Suplicy Goes Engenheiro e gerente executivo do Instituto dos Metais Não Ferrosos.
A Arena Salvador, estádio que substituirá a Fonte Nova como o maior palco do futebol baiano, tem como marcas fundamentais de seu projeto a sustentabilidade técnico-econômica e ambiental e a durabilidade dos materiais que serão utilizados em sua construção. Esses conceitos têm origem na tragédia que aconteceu em novembro de 2007, quando parte da arquibancada desabou durante jogo decisivo entre Bahia e Vila Nova, em que o estádio estava lotado, matando 7 pessoas e ferindo 70. A falta de manutenção do estádio provocou a tragédia, daí a preocupação central do governo baiano para com a durabilidade e a qualidade dos materiais e sistemas construtivos que serão utilizados na Arena Salvador. - Além de receber os jogos da Copa de 2014, o novo estádio também abrigará partidas da Copa das Confederações, em 2013, e é cotado para a Olimpíada 2016 - a cidade foi listada pelo Comitê Olímpico Brasileiro entre as cinco capitais que receberão os campeonatos de futebol dos Jogos. Por isto, entre outras características de sustentabilidade técnico-econômica, ambiental e de resistência, a nova arena contará com boa parte seus componentes metálicos galvanizados, uma especificação que visa a assegurar a qualidade e a durabilidade desses elementos por muitas décadas.
Projetada para receber 50 mil espectadores, a nova arena manterá a geometria oval e a ampla abertura sul do Fonte Nova, concebidas pelo arquiteto modernista Diógenes Rebouças na década de 1940. Marc Duwe, arquiteto da Setepla Tecnometal e responsável pelo projeto, juntamente com o escritório alemão Schulitz + Partner, explica que esta foi a opção projetual para manter "a memória do estádio, preservando ao máximo a linguagem arquitetônica original".
Segundo Duwe, a opção trouxe vantagens. A abertura sul aumentará a ventilação da arena e terá, na ponte que ligará as duas arquibancadas, restaurante, café e o Museu do Futebol, atividades planejadas para diversificar os usos do estádio.
Serão três os anéis de arquibancada. O primeiro com geometria retangular e fileiras bem próximas do campo. Os anéis superiores terão formato oval e abrigarão os camarotes VIP, as tribunas de honra e as cabines de imprensa. O projeto, vale lembrar, foi o único entre os estádios da Copa escolhido por concurso público.
A cobertura do estádio tem sua estrutura baseada em uma "roda de bicicleta": um sistema de raios metálicos tensionados e anéis de compressão, fechados por membranas translúcidas de politetrafluoretileno (PTFE), popularmente conhecido pelo nome comercial de teflon. A forma da estrutura, segundo os autores do projeto, remete à do berimbau, instrumento musical importante na história cultural da cidade. Já o efeito ondulado e a translucidez lembram o litoral de Salvador.
A adoção dos elementos metálicos galvanizados é uma medida que permite assegurar maior durabilidade a esses elementos, especialmente em ambiente agressivo como o que se localiza o estádio, à beira-mar. A principal referência para essa definição é dada pela norma ISO 12944-2, que divide os ambientes atmosféricos em seis categorias de agressividade: C1 - muito baixa; C2 - baixa; C3 - média; C4 - alta; C5-I - muito alta, industrial; C5-M - muito alta, marinho. A Arena Salvador, portanto, situa-se no topo da agressividade, de acordo com a norma.
A especificação, já no projeto, de materiais de aço ou ferro fundido galvanizados é um item de sustentabilidade econômica e ambiental, pois o aço revestido tem sua vida útil prolongada e exige menos manutenção se comparado ao aço nu ou pintado, o que resulta em considerável economia.
Assim, guarda-corpos, cercas e alambrados, portões, detalhes arquitetônicos de fachada de aço ou de ferro fundido ganham vida útil maior com a galvanização a fogo, técnica pela qual a estrutura/elemento é revestida com zinco, protegendo o aço contra a corrosão.
Todos esses componentes, quando submetidos à galvanização a fogo podem durar até 75 anos sem manutenção, dependendo do ambiente onde estão inseridos. Pesquisas científicas e ensaios laboratoriais comprovam que a galvanização oferece muito maior resistência aos elementos metálicos em cidades situadas à beira-mar, caso de metade das 12 cidades-sede da Copa: Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
A adoção dos elementos metálicos galvanizados no Arena Salvador é um item bastante utilizado na Europa e que garante maior durabilidade, além de se integrar bem à linguagem geral arquitetônica adotada pelo projeto, explica o arquiteto Marc Duwe. Para ele, também é um fator positivo de qualidade o processo de galvanização ser realizado com controle de qualidade em fábricas, com os elementos chegando à obra prontos para serem instalados.
Se precisassem ser pintados no canteiro de obras a qualidade final dificilmente seria uniforme e plenamente assegurada.
Em relação aos outros requisitos de construção sustentável, a Arena Salvador terá sistemas para o reúso e o aproveitamento da água da chuva, aquecedores solares para os chuveiros, além de uma estação independente para o tratamento de esgoto. Existe ainda um projeto-piloto do governo baiano para colocar placas fotovoltaicas no Pituaçu e que também deverão ser instaladas na nova arena.
A Arena Salvador é um dos estádios cujas obras estão mais adiantadas dentre as 12 cidades-sede. Por este motivo, a cidade foi escolhida para sediar uma das chaves da Copa das Confederações, um ano antes da Copa, em 2013. E é também uma lição de sustentabilidade e durabilidade na escolha dos materiais que a conformarão, constituindo-se em exemplo às demais construções brasileiras, esportivas e gerais.
Ricardo Suplicy Goes Engenheiro e gerente executivo do Instituto de Metais Não Ferrosos.